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domingo, 30 de janeiro de 2011

Do falar em público


Não que eu tenha especialmente uma vergonha de falar em público. Tenho especialmente vergonha de falar para um público medianamente desconhecido.

Ontem, às pressas, fui convidada - e aqui fica o agradecimento - para falar sobre a minha profissão para um público de jovens, do qual metade eu desconhecia. Não bastasse os ingredientes
surpresa, despreparo e ansiedade, quem me acompanhava nessa tarefa eram profissionais pelo menos umas dez vezes mais gabaritados que eu. Gabaritados não somente em suas profissões, mas também no quesito falar em público. Toda a parte sobre falar sobre mim estaria ok, não fosse o caso de eu estar rodeadas de caras que são diretores, advogados bem sucedidos e outros cargos do gênero.

Falar para um público pode causar transtornos dos mais variados: suadeira - com sua licença, amigo Graciliano -, gagueira, sede, tremedeira, calor na espinha e, provavelmente o pior de todos, amnésia.

Sim, porque, por mais que você esteja cem por cento seguro do que precisa falar, você simplesmente esquece tudo o que tem a dizer quando percebe uma média de cinquenta rostos olhando fixamente e freneticamente para você.

- Como você escolheu sua profissão?
- Pff.
- O que te influenciou nessa decisão?
- Pff.
- Você se sente vocacionado?
- Pff.

E não adianta mais olhar para o relógio pregado na parede, porque esse truque não funciona mais. Ao contrário do que ficava fixado no antigo templo da Assembleia de Deus, o relógio do templo em que estou atualmente sofria com o reflexo de uma lâmpada. Não era possível ver os ponteiros andando. Sem saber para onde mais poderia olhar, encontrei uma cadeira vazia em meio aos que me observavam. Lá fixei meu olhar, sem me atentar exatamente ao que falava, e sim em como poderia passar logo o microfone para o meu companheiro da esquerda.

E lá vem outra rodada de perguntas.

- Quais são as maiores dificuldades encontradas na sua profissão?
- Pff.
- E as conquistas?
- Pff.

E eu continuava me sentindo como um corpo sendo dissecado por um grupo de estudantes de medicina de alguma faculdade açougueira. Me dissecavam os dedos, as unhas, as cutículas, e nada de muito interessante encontravam lá. Nada digno de ser anotado. Nada digno de ser discutido ou levado em pauta à diretoria. Minha alma se remexia ao som de I Like to Move It, aonde quer que ela estivesse.

E lá vem a última rodada de perguntas. Ufa.

A proximidade do fim me anima, e libera a rolha que fechava a minha garganta.

- Como você lida com a ética na sua profissão?
- Bla bla bla, bla bla bla, bla bla bla.
- Como você concilia sua posição cristã com a profissional?
- Bla bla bla, bla bla bla, vla bla bla.

E, nesse momento, eis que eu consigo enxergar os ponteiros do relógio, que anunciam que mais de uma hora se passou desde que toda a história começara. O moderador da mesa também pede que nós nos apressemos e resumamos tudo o que ainda temos para falar.

E é assim que, no momento em que eu me sinto confiante para me tornar o novo exemplo de sucesso da geração, o grupo de estudantes de medicina amputam minhas pernas e decepam meu pescoço, afim de calarem a voz da alma que insistia em tomar de volta seu lugar.

Se houver uma próxima vez - que ela aconteça com o intervalo mínimo de um ano -, prometo ir melhor preparada. E com um relógio de pulso, por via das dúvidas.

2 comentários:

J. MD disse...

HAHAHA me diverti com o post! Não sabia que tinha blog... se eu soubesse teria vindo aqui mais vezes pra viciar mais rápido rs

Kerolz, muito obrigado pelo carinho! Tou muito feliz, de bem com a vida, com minha família. Tão agradecido a Deus, sabe? porque nessas horas que a gente vê o quanto ele é fiel e cumpre as promessas dele em nossas vidas. Como eu disse no post, mão é felicidade, é mais! rs Muito obrigado viu? fico feliz de estar dividindo essas felicidade com (ótimos) amigos como vc! beijao. Saudades imensas.. Dê um beijo em tia vera... fara que tou com saudade daquele feijão delicioso! rs bj

Unknown disse...

Oi Carol, tudo bem? Sua dúvida sobre quem paga o noivado foi respondida lá no blog, dá uma olhada: http://vestindobranco.blogspot.com/2011/04/quem-paga-o-jantar-de-noivado.html

Bjs!