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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Lixeira

Estou passando por um processo de mudança. Consegui um estágio muito bom em um cargo que eu queria há tempos, e estou saindo hoje da empresa na qual trabalhei por 1 ano e meio, além de, há três anos, ter sido meu primeiro emprego, como estagiária do curso técnico que fazia.

E mudanças como essas exigem da gente posições que antes não precisávamos tomar. Exige senso de organização com o seu trabalho, senso de respeito a quem um dia vai vir e ocupar a sua cadeira, e senso de maturidade para aceitar e esperar sem demasiada ansiedade o que está por vir.

E, nessa de arrumar as coisas para a minha saída, o maior dilema com o qual me deparei foi um bem simples, porém grandioso e desastroso para mim: deletar a lixeira.

Sou do tipo que guarda roupas velhas desde a infância, e só doa ou joga fora quando a mãe obriga.

Sou do tipo que tem uma caixinha de lembranças onde guarda coisinhas importantes e especiais que tem guardado desde os 11 anos, onde, recentemente, descobri uma embalagem de um bombom Sonho de Valsa que ganhei do meu primeiro namorado, aos 13 anos. Na época, ele mal sonhava que eu gostava dele, e aquele bombom foi a coisa mais especial do ano.

Sou desse tipo que viaja pra outras cidades e compra lembrancinhas que lembrem a cidade, guarda no armário e nunca mais joga fora.

Sou de um tipo que não se desfaz de nada com medo de um dia precisar do que foi jogado fora. Me apego às pequenas coisas sem valor, numa tentativa de não esquecer nunca o que passou.

E então eu pergunto: como esvaziar uma lixeira que está ali, intacta há 18 meses?

Esvaziei.

Me sinto esvaziada.

40gB de lixo que foi embora, 40gB de mim que está vagando em algum lugar desconhecido.

Agora está tudo vazio, tudo limpo.

Me abro para o novo que está por vir, com expectativa de que tudo se encha rapidamente; com ansiedade de que o novo conteúdo seja melhor que o antigo; com esperança de que, dessa vez, leve mais tempo para que eu precise esvaziar tudo novamente.

E se aproxima a entrega das chaves.

A entrega das chaves é o símbolo do não-voltar, é o símbolo do recomeço, é o símbolo do novo.

É o fim, que venha o novo.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Confusão no Metrô: 21/09/2010




Hoje deveria ser mais um dia tipicamente paulistano: população que acorda cedo, pega o ônibus, metrô, trem, tudo lotado, até chegar ao seu trabalho, não fosse (mais) um imprevisto no Metrô. E, hoje, a situação foi um pouco mais tensa do que o que já acontece de costume.

Às 7h30 da manhã, uma composição parou entre as estações Dom Pedro II e Sé. A parada foi longa, e aí já pode-se imaginar o efeito cascata que causou em todas as estações da linha vermelha em direção à Zona Leste, até Itaquera.

Dada a demora do reestabelecimento do serviço, as pessoas que estavam dentro das composições paradas ao longo de todas as estações começaram a descer dos trens, apertando os botões de emergência, forçando a abertura das portas, ou abrindo as janelas de emergência. A partir daí, já dá pra ter noção do caos: os trilhos ficaram tomados de gente, o Metrô foi obrigado a desernegizar a rede para evitar acidentes, e nada pôde voltar ao normal enquanto todos os usuários estavam nas linhas.

Desse horário até aproximadamente 10h30, quase as estações da Zona Leste fecharam os acessos pra evitar a superlotação, e estava devolvendo os bilhetes de quem desistia de pegar o metrô e saía da estação.

Mas o que me indigna nessa história toda e me motiva a fazer esse post com todas essas informações que já estão em todos os sites de notícias, é justamente a falta de respeito para com a população por parte da assessoria de imprensa do Metrô e também dos grandes meios de comunicação.

Acontece que, em qualquer lugar em que se lê/vê as notícias sobre o acontecido, a justificativa para a pane é que uma BLUSA impediu o fechamento de uma porta, e em seguida apertaram o botão vermelho de emergência, causando toda a pane e forçando o desligamento da rede.

E aí eu pergunto: ONDE É QUE ESTÁ A VERGONHA NA CARA dessa assessoria?

TODOS, repito: todos os paulistanos que estão acostumados a pegar metrô todos os dias no horário de pico sabem o quanto é comum essa cena: um objeto que impede o fechamento de uma porta, ou uma pessoa que passa mal e desmaia dentro do metrô por causa da lotação, e apertam o bendito botão vermelho de emergência.

Pra quem não conhece o funcionamento, explico. Quando o trem está parado na estação com as portas abertas e algum objeto impede o seu fechamento, o metrô não consegue sair. Pra isso servem os agentes de estação, que vão até a porta com o problema e resolvem. E, se em uma eventualidade o metrô conseguir partir mesmo com uma das portas com uma fresta aberta - o que é raro, quase impossível -, ele só vai parar na próxima estação. Outra situação: se uma pessoa passa mal dentro do metrô, os usuários apertam o dito botão vermelho e, na próxima estação, na porte onde houve a ocorrência, estará uma equipe de agentes prontos a fazer o atendimento. Ou seja: o metrô NUNCA para no meio dos trilhos pela justificativa dada pela assessoria.

O que me causa tanta raiva é saber que, com toda a certeza, essa foi só mais uma das falhas elétricas do metrô - que acontecem com frequencia -, mas que, como sempre, foi maquiada pela grande imprensa. Certas coisas que acontecem no metrô daqui nunca vão para a mídia, e não sei se pelo fato de o metrô ser um dos carros-chefes dos governos e prefeituras PSDBistas daqui. É só vocêm paulistano, pensar: quantas vezes você já foi prejudicado quando uma pessoa caiu ou se jogou nos trilhos na frente de um trem - obviamente morrendo - e parando todo o funcionamento do Metrô? Agora pense, dessas vezes, quantas você viu notícia na TV. Com toda a certeza, nenhuma.

Eu sempre achei que essas hitórias fossem uma espécie de lenda, até eu, com meus próprios olhos, ver um corpo de uma pessoa que tinha acabado de morrer no metrô. Foi na estação Tatuapé, fora do horário de pico. A estação foi evacuada e fechada, e o trem em que eu estava só passou por lá porque já estava no meio do caminho e não tinha como voltar, mas, de toda forma, não parou na estação. Ela estava cheia de agentes, policiais e bombeiros, mas não foi nada, absolutamente NADA divulgado na mídia.

Eu fico aqui, pensando com os meus botões, e tentando descobrir mais coisas bizarras que acontecem no Metrô de SP e a relação com a sua não-divulgação na grande imprensa.

A propósito, hoje foi inaugurada a Estação Tamanduateí, na Linha 2-Verde, e que fará integração com a linha de trens da CPTM que vai em direção a Mauá. Agora, moradores do ABC poderão chegar à região da Avenida Paulista em tempo recorde. Resta saber se a linha, que é magrinha, vai aguentar.

E que fique claro: não estou, aqui, adotando nenhuma posição política. Antes que venham apontar o dedão, não estou afirmando que o governo PSBD esconde as coisas que acontecem no metrô e nem, como uns militantes, tentando descobrir se isso foi arapuca do PT pra ofuscar a inauguração da nova estação, que era tão esperada.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Estive olhando fotos antigas, blogs e fotologs, e-mails, cartas. Coisas que já passaram há muito tempo e das quais eu mal me lembrava, mas, ao ler e ver cada pequeno detalhe de histórias, amizades e amores passados, me dou conta de quanta coisa eu já vivi.

Não que o conteúdo seja tão grande assim: são apenas 20 de história, sendo que, desses, separo aproximadamente os últimos 8 para reconstituir a minha vida. Não é por conteúdo, mas por intensidade de sentimentos. Olhando meu antigo Flogão e meu antigo Fotolog (sim, eu já tive um de cada), relembro fatos há muito esquecidos, e parece que eu consigo revivê-los, ao vivo.

Um turbilhão de sentimentos me invade: alegrias vividas e mágoas a ser apagadas voltam com tudo. Fecho os olhos na tentativa de capturar melhor as cenas que passam diante de mim. Tento, em vão, tocar as pessoas que nelas estão. Não desisto, e tento ver melhor os pequenos detalhes, como os sorrisos, os olhos, as roupas, o jeito de andar, o som do riso.

Sinto-me boba vendo tudo o que eu já escrevi. Pareço uma mãe diante do diário secreta de sua filha adolescente. Curioso perceber como eu já escrevi e senti tanta bobagem. Curioso ver como, há 5, 6 ou 7 anos, tudo era tão simples e fácil. Vendo daqui, hoje, os meus casos e acasos dos 15 anos parecem as coisas mais superficiais que já existiram. Mas, naquela época, eu não tinha noção de que os 20 anos chegariam. Faculdade, trabalho, amor sério. Tudo era festa, confete e serpentina.

Não se trata de mais uma crise existencial, não. Isso eu sempre deixo para a semana do três de maio. Se trata de recuperar lembranças. Se trata de lembrar de gente que não vejo há anos, literalmente. Se trata de lembrar do meu (curto, é verdade) passado, e não conseguir evitar um sorriso no rosto, e a vontade de chorar. Se trata, então, de perceber o quanto a minha vida é boa. Com seus altos e baixos, minha é boa, e foi assim desde sempre.

Hoje sou feliz por ter esses diários guardados. Não tive diários escritos depois que saí dos 12 anos, mas esses tais blogs, flogs e o que mais quer que seja me ajudaram a lembrar um pouquinho do que eu fui. Preciso dar um jeito de guardá-los de maneira definitiva, porque, se um dia ou outro os servidores apagarem esses sites que mal funcionam hoje, aí eu vou sentir que, mais dia, menos dia, essas lembranças se apagarão pra sempre da minha mente.

Mudei, mas não muito. Continuo intensa em sentimentos, porém desconfiada. Já não me dou à amizade facilmente, e hoje tenho pouquíssimos amigos. Já não falo 'eu te amo' a quem acabei de conhecer, e já não me decepciono também, já que não espero mais muita coisa das pessoas. Às vezes, sinto falta das muitas amizades efusivas e espalhafatosas, que invadiam o meu espaço com meu consentimento. Hoje, tenho uns poucos, por quem mantenho profundo amor e respeito.

À parte isso, meus sentimentos estão amadurecendo. Hoje, tenho um amor pra chamar de meu: aquele amor que faz você querer noivar, casar, ter filhos, envelhecer e morrer junto. Porque já não é possível enxergar a minha vida sem o Isaac.

Guardo esse post, então, como mais um capítulo do meu diário. Provavelmente, vou olhá-lo daqui a 5 anos e pensar: 'meu Deus, como eu era boba e escrevia asneiras'!

Pois, se é assim, quero que a minha vida seja toda cheia de bobagens, regada à asneiras e, acima de tudo, com muita, mas muito intensidade.