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sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Gente, como a gente


"1. Quando Ele desceu do monte, grandes multidões o seguiram.

2. E eis que um leproso, tendo-se aproximado, adorou-o de joelhos e clamou: “Senhor, se é da tua vontade podes purificar-me!”
3. Então, Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: “Eu quero. Sê limpo!” E no mesmo instante ele ficou purificado da lepra.
4. Em seguida, disse-lhe Jesus: “Veja que não digas isto a ninguém, mas segue, mostra teu corpo ao sacerdote, e faze a oferta que Moisés ordenou, para que sirva de testemunho.”"

Mateus 8 (versão King James)

***


Todos os dias, ao sair do trabalho, pego um ônibus que anda por toda a 23 de maio, até me deixar no metrô Anhangabaú.
Nesse meu trajeto diário, tenho observado, nos últimos dias, uma cena curiosa e incomodante.
Debaixo de um viaduto, vejo um grupo de mendigos tomando banho. Vejo baldes cheios de água e sabão. Eles tomam banho ali, na calçada da 23 de maio entre a Fecap e o Anhangabaú, aos olhos de todo mundo. Não estavam nus, mas tomavam banho como tomam os famosos instantâneos no Big Brother, tomando o cuidado de não deixar aparecer suas partes íntimas.
Vi também uma moço passando até creme hidratante. Havia numa sacola outros produtos de higiene pessoal, como desodorante e sabonete.

Isso me trouxe à realidade de que moradores de rua tem exatamente as mesmas necessidades que nós, que temos um lugar confortável aonde repousar.
É claro que eu sabia disso, como todos sabem, mas é como se uma venda tivesse sido tirada nos meus olhos, e agora eu pudesse enxergar as coisas como elas realmente são.

Há um tempo, vi na televisão um comercial em que uma criança apontava insistentemente para seu pai um mendigo que estava sentado na calçada, mas o adulto não conseguia enxergá-lo de modo algum.
E é assim mesmo que as coisas funcionam.
Somos como esse pai, que já não consegue mais ver a miséria que está à sua frente. Desviamos de um morador de rua como quem desvia de um poste; contornamo-os, cheios de sacolas na frente de um shopping às vésperas no Natal, como quem contorna um carro que atrapalha o caminho.

Fazemos isso, porque não fomos feitos para lidar com esse tipo de situação.
Fomos feitos para desfrutar do melhor que nos foi colocado à disposição, há milhares de anos.
Mas aí, a humanidade se desviou por onde não devia, e aqui estamos.
Não fomos feitos para isso, então isso nos desconforta, fazendo com que fujamos ao máximo dessas pessoas.

A realidade é que eles são humanos, como nós. Feitos de carne e osso. Tem os mesmos órgãos que nós e, consequentemente, as mesmas necessidades.
Eles são iguais a nós, como eram os leprosos nos tempos bíblicos.
E os tratamos como tratavam aos leprosos na época, como se fossem serem perigosos à nós ou invisíveis.

Mas Jesus, em mais um de seus atos de amor, curou aquele leproso.
E nós, que hoje somos mãos e pés dEle aqui na terra, o que temos feito? Que atos de amor temos demonstrado aos que se encontram em situações adversas?

Que nós possamos ser mais parecidos com Ele, e que façamos o que nos pediu e tanto demonstrou: amor ao próximo, amor ao nosso semelhante.
Que não sejamos tomados por um sentimento piegas natalino, mas que possamos, durante todo o ano, ver, sentir e amar como crianças, inocentes e puras. Pois delas, é o Reino dos Céus.

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