Páginas

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Das últimas coisas

"Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo dos céus."

Em menos de 24 horas começarei a realizar o sonho que tenho desde muito nova. Eu nunca imaginei que o início da realização desse sonho fosse tão difícil.


Olho para o quarto que ficará para trás; olho para as fotos dos amigos que demorarei muito tempo para reencontrar; vejo a família reunida na cozinha para uma refeição da qual só voltarei a desfrutar daqui a dois anos; vejo o Isaac perguntando se eu estou precisando de alguma coisa; vejo o João do meu lado que está vibrando por ter derrubado todos os monstrinhos do Angry Birds no meu celular - e não faz a menor ideia do que está acontecendo; não faz ideia de que na próxima noite a "côca" dele não estará mais aqui para brigar com ele.


Estou vivendo de muitos últimos momentos: a última comidinha da mãe, a última historinha contada para o bebê, a última dormida do Isaac na minha casa, a última vista do meu bairro à noite - que não tem nada de especial, o último abraço nos amigos queridos - os de longe e os de perto; um monte de coisas que ficarão suspensas por dois anos.


Dois anos que serão vividos intensamente por mim do lado de lá do oceano, e também pelos que ficarem do lado de cá. E isso é o que enche a gente de apavoro: não saber em que estado estarão as coisas daqui a dois anos. O João vai deixar de ser bebê e se tornar uma criança grande; a Lolô aprenderá a falar e engatinhar; talvez algum novo sobrinho nasça; talvez novos membros apareçam na família; talvez os amigos se casem - dois dos melhores que a vida me deu já me fizeram o convite oficial para o casamento, e eu perderei a oportunidade.


Se eu pudesse, escolheria congelar a vida aqui neste 8 de julho e retomá-la na minha volta. O casaco ainda estaria pendurado na cabeceira da cama, o chão ainda estaria bagunçado com os meus sapatos jogados, a comida ainda estaria quentinha em cima do fogão. Quando eu voltar tudo e todos serão diferentes: os a decoração, o ar e as pessoas. Mais que isso, eu voltarei outra pessoa; voltarei com a bagagem repleta de experiência e coisas boas - e ruins também - pra contar.


No mais, fica a responsabilidade de aprender a administrar a saudade e as ausências - sobra tanta falta - e, do lado de cá, pedir para Deus cuidar direitinho de cada um dos meus - e multiplicar o dinheirinho para que o máximo de gente bonita possa me visitar. Olho pra trás e vejo que 2011 já é um ano muito distante. 2015 está logo aí. Au revoir, Brasil.